Minha Jordânia brasileira

Nem é preciso me conhecer muito bem para entender que tenho sérios problemas com gestão de tempo e que este é um dos motivos pelos quais eu nunca levo um blog adiante.

Passaram-se 8 meses desde meu último post. Viajei, trabalhei, mudei de casa, fiz amigos, tenho um coelho, fui testemunha de um casamento, fumei muita shisha, comi muito hummus e falafel, fui até a fronteira do Iraque, vi neve pela primeira vez, mergulhei no Mar Vermelho, boiei no Mar Morto, descobri o Tesouro de Petra, encontrei no deserto a paisagem mais bonita que já vi na vida e uma paz nunca antes sentida.

Ah, se coubessem 8 meses em um post.

Todos os dias à caminho do trabalho vejo uma placa que aponta em direção ao meu escritório (por uma feliz coincidência) dizendo: “School of Life_Jordan”. Até hoje não sei onde é essa escola ou do que se trata, mas ainda depois de todo esse tempo ela me chama a atenção.

A Jordânia foi e está sendo uma baita de uma escola de formação pessoal e profissional, diga-se de passage. Formação de caráter. Talvez eu tivesse uma vida melhor (se não melhor, mais fácil) em qualquer outro lugar, mesmo no Brasil, mas não trocaria um segundo do que vivi até aqui.

Ainda hoje, em um destes posts de auto-ajuda do Facebook que sempre me fazem querer desfazer a amizade com a pessoa que compartilhou, li que “a vida não te ensina a ser forte; ela te obriga”. Por mais Paulo Coelho que isso soe, faz sentido.

Mudar nunca é fácil. É lindo no começo, tudo é azul e têm flores por onde você passa. Mas o tempo passa, as flores murcham, você deixa de ser um turista e chega o momento em que você tem que se tornar um deles, por uma questão de sobrevivência. Aí, sim, amigo, você achou a experiência que você procura.

Como uma criança você imita tudo que eles fazem, tudo que eles dizem. É como começar a viver de novo. Até aprender a falar, ler e escrever se faz necessário. É nesse processo lento de ‘mutação’ que você é obrigado a ser forte.

E vem o medo. No meu caso, não o medo de não conseguir, pelo contrário. O medo de conseguir demais. A mesma situação em que me vi há 5 anos quando tive que me mudar para Ponta Grossa, uma cidade que ainda dentro do mesmo estado, do mesmo país, tinha uma cultura tão diferente da minha. Aqui é a condição é a mesma, mas em maior escala. E eu não tenho como entrar no ônibus e correr pra casa da minha mãe.

Como não abandonar totalmente minha própria cultura estando imersa em outra tão forte? Se quer com a minha família me comunico direito. Talvez já tivessem ‘comido meu cérebro’ se não fosse pela distinta mistura que encontrei por aqui: “os árabes abrasileirados”.

Provavelmente mencionei em posts anteriores (claro que não me lembro), mas sei que o fiz no Brasileiras pelo Mundo, que encontrei alguns brasileiros por aqui. Leia-se, centenas deles.

Pessoas de personalidade muito peculiar que, na maioria das vezes, não têm absolutamente nada em comum entre si a não ser a nacionalidade brasileira (alguns se quer nasceram no Brasil). Todas as 5 regiões do país podem ser encontradas entre os membros da Comunidade Brasileira na Jordânia (CBJ) que tem até mesmo uma diretoria e funciona com o suporte da Embaixada do Brasil em Amã.

Conhecendo um, eu conheci quase todos. Brasileiros tem uma mania bonitinha de se enturmar entre si. Rola uma emoção quando a gente ‘se acha’ por aí. Ainda mais em um país considerado exótico, como a Jordânia.

Meu envolvimento foi tamanho que hoje eu não só moro com um brasileiro como também faço parte da diretoria da CBJ. Mas o engraçado é que, por via de regra, as pessoas aconselham: “não procure brasileiros durante seu intercâmbio. Conviva com internacionais”. Sim, conviva com internacionais. Mas eu devo admitir que as experiências mais interessantes que eu tive foram com os brasileiros daqui. Explico.

Como eu já disse por aí, apesar de estar convivendo com brasileiros é como se eu tivesse lidando não só com locais, mas estrangeiros, tanto da parte árabe como da tupiniquim.

Todos sabemos a riqueza cultural do Brasil. Um país de proporções continentais e de uma mistura fantástica de raças, etnias, religiões etc. Imaginem o que é para uma paranaense conviver com gente da Bahia, Paraíba, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, São Paulo etc., todos juntos. A combinação de sotaques é como uma sinfonia e em alguns momentos eu realmente sinto a necessidade de um dicionário. Mas a diversão é certa.

No entanto não é só isso que completa o exotismo do grupo em questão. A maioria absoluta destes brasileiros residentes aqui também são árabes e isso é muito nítido. Desde a língua e religião ao comportamento e diferentes opiniões sobre diversos assuntos. Uma experiência de riqueza imensurável.

Por isso talvez eu seja a única a te dar este conselho que é julgado como sendo de viajantes que procuram experiências medianas: ache brasileiros onde quer que você vá. Conviver com brasileiros de outros estados já é interessante, mas no exterior, quando eles são de alguma forma locais, no caso árabes, é um bônus. É aprender de seu próprio povo uma cultura totalmente diferente. Eu sinto que, saindo daqui, meu próximo intercâmbio vai ser no Brasil.

Jabá

Já que tirei o dia para falar da CBJ, me sinto no dever de fazer a divulgação de nosso trabalho. No dia 6 março, a Comunidade Brasileira a Jordânia promove o Baile de Carnaval! (Sim, amigos, carnaval no Oriente Médio. Chupem essa manga). Coisa pequena, que vai acontecer no Hotel Le Meridien e tem patrocinadores tipo a Kia e Emirates. A Discover Jordan, minha querida empregadora, também apoia a festa. #Ostentação

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O Carnaval, apesar dos pesares, deve ser reconhecido como uma das maiores manifestações culturais do Brasil. E nosso objetivo por aqui é compartilhar o melhor esta celebração e promover a interação entre as culturas brasileira e jordaniana. Vai ser bonito. Quero ver árabe aguentando esse tranco.

If you are Jordanians, resident, just a tourist or whatever in Jordan, following this post trying to understand what is going on with Google Translator, feel yourself invited to the party. Any doubt, contact me (;

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